Moda descartada transforma-se em crise ambiental no Gana
- Joana Feliciano
- há 4 dias
- 3 min de leitura
No Gana, as zonas húmidas protegidas estão a ser transformadas por toneladas de roupas usadas provenientes de marcas do Reino Unido como Marks & Spencer, Zara e Primark. Estas peças - muitas vezes danificadas ou de fraca qualidade - são despejadas em habitats ecológicos vitais, como o delta do rio Densu, um local designado Ramsar que sustenta tartarugas em perigo e aves migratórias como as terns roseate e curlew sandpiper (Carrington, 2025; Graphic Online, 2025; EcoWatch, 2025).


Mais de 15 milhões de peças chegam semanalmente ao Gana, sendo que cerca de 40% são inutilizáveis à chegada (Time, 2024; Teen Vogue, 2023). Apenas uma pequena parte é reciclada; o restante acumula-se em cursos de água, dunas e aterros informais, contaminando solos e ameaçando os meios de subsistência locais (Carrington, 2025; EcoWatch, 2025; El Cabildo, 2025; Greenpeace Africa, 2023).
A ONG Greenpeace Africa descreve esta realidade como “Fast Fashion, Slow Poison” - um veneno lento -, alertando para os químicos e microplásticos presentes nos tecidos sintéticos que se infiltram nos ecossistemas e na saúde humana (Greenpeace Africa, 2023). Segundo o ecologista Jones Quartey, o despejo em zonas húmidas provoca “bioacumulação de microplásticos” que pode alterar irreversivelmente os ecossistemas e afetar as cadeias alimentares (Graphic Online, 2025; EcoWatch, 2025).

Soluções locais e caminhos de esperança
Apesar da crise, emergem soluções baseadas na criatividade e na resiliência local. Designers ganeses e organizações como a The Or Foundation promovem práticas de upcycling, transformando desperdício em peças de moda sustentáveis e criando oportunidades de emprego dignas, especialmente para mulheres (AP News, 2025; Time, 2024).
Ativistas socioambientais apelam ainda à adoção urgente de políticas como a Responsabilidade Alargada do Produtor (EPR), que obrigaria as marcas a responsabilizarem-se pelo ciclo de vida completo dos seus produtos, como forma de travar este “dumping” neocolonial (Financial Times, 2023; Teen Vogue, 2023; Greenpeace International, 2022).
Leituras e filmes recomendados sobre o tema
Documentário – It’s Like a Death Pit (Guardian / Greenpeace)
Relatório – Fast Fashion, Slow Poison (Greenpeace Africa)
Vídeo – Africa is drowning in fast fashion textile waste (Greenpeace Africa)
Projetos locais – The Or Foundation e designers como Chloe Asaam, que promovem moda circular no Gana.
O dumping de roupas usadas no Gana não é apenas um problema ambiental - é uma crise social, sanitária e ecológica. Mas, no meio desta catástrofe, renasce uma resposta comunitária baseada na justiça e na criatividade. É urgente que políticas como a Responsabilidade Alargada do Produtor (EPR) sejam implementadas por governos e indústrias, para que a moda deixe de ser parte do problema e se torne parte da solução.
Fontes
AP News. (2025). Ghana grapples with fast fashion waste. Associated Press.
Carrington, D. (2025, 18 de junho). Discarded clothes from UK brands dumped in protected Ghana wetlands. The Guardian.
EcoWatch. (2025, 18 de junho). Discarded clothing from UK brands found polluting Ghana wetland. EcoWatch.
El Cabildo. (2025). New investigation finds tons of discarded clothing from British brands dumped in Ghana. El Cabildo.
Financial Times. (2023). Why fashion needs Extended Producer Responsibility (EPR).
Graphic Online. (2025). Fashion waste from top UK brands polluting Ghana’s wetlands. Graphic Online.
Greenpeace Africa. (2023). Fast Fashion, Slow Poison: New report exposes toxic impact of global textile waste in Ghana. Greenpeace.
Greenpeace International. (2022). Return to sender: Why Africa doesn’t need any more of your clothes. Greenpeace International.
Teen Vogue. (2023). What really happens to your used clothing. Teen Vogue.
Time. (2024). Ghana is drowning in fast fashion waste. Time Magazine.
Comentários